Wladmir Amoroso em Arceburgo: a música invisível de um retrato

Um olhar sereno, um violino ao peito e o tempo suspenso no ar: em “O Violinista”, obra apresentada no Salão de Artes de Arceburgo, Wladmir Amoroso transforma um retrato em sinfonia visual. Uma pintura que fala da resistência, da memória e da arte que permanece mesmo quando o som se cala.

Paulo Roberto Amoroso

6/20/20252 min read

🎻 O Violinista: o tempo que vibra em silêncio

Obra de Wladmir Amoroso no Salão de Artes Plásticas Engenheiro Júlio Capobianco – 2025

Existe uma música que não precisa ser ouvida para ser sentida. É com essa premissa sutil que Wladmir Amoroso nos apresenta “O Violinista”, uma pintura que extrapola a imagem e nos leva diretamente ao campo da escuta interior.

Selecionada para o tradicional Salão de Artes Plásticas Engenheiro Júlio Capobianco, em Arceburgo/MG, a obra traz o retrato de um homem idoso segurando seu violino com delicadeza e determinação. Sua expressão mistura cansaço e serenidade, como se tivesse acabado de executar uma longa sinfonia da vida. Os cabelos grisalhos e revoltos emolduram um rosto profundamente humano, marcado por rugas que mais parecem partituras de uma existência intensa.

O violino não é apenas um instrumento musical nesta composição — ele é um prolongamento do corpo, um símbolo da alma que resiste. O olhar do retratado, que atravessa a tela de forma direta e quase inquisidora, nos convida a desacelerar e ouvir o que não se diz: o som do tempo, da memória, da sensibilidade.

Amoroso trabalha aqui com acrílica sobre tela, utilizando uma paleta quente e densa que remete ao calor do crepúsculo — aquele instante entre a luz e a sombra, onde tudo ganha um tom mais íntimo. O verde que reveste o traje do violinista contrasta com os fundos em tons ocres, criando uma tensão visual que sugere a luta entre vitalidade e melancolia. Há também pequenos detalhes que elevam a narrativa pictórica, como o relógio dourado no pulso do personagem, que insinua com sutileza a presença do tempo — não como opressor, mas como companheiro.

Trata-se de uma obra em que o realismo acadêmico encontra o subjetivo simbólico, onde cada pincelada parece sussurrar algo ao espectador. Não há espetáculo, nem pose grandiosa — há, sim, uma dignidade contida, um gesto quieto que carrega a força de quem viveu, de quem ainda toca, mesmo que o mundo ao redor já tenha silenciado.

“O Violinista” é, portanto, mais do que um retrato. É um tributo à escuta, à arte como permanência, àquilo que vibra em nós mesmo quando tudo parece calar. Uma pintura que convida não só ao olhar, mas à contemplação. E, sobretudo, ao respeito por tudo aquilo que só o tempo é capaz de lapidar.