Quando Embu Mirim encontra a Jordânia: o mural que une tempos e paisagen

Em um beco de Embu Mirim, Wladmir Amoroso nos transporta para o deserto da Jordânia com um mural impressionante que reinterpreta a cidade de Petra. Mais do que uma pintura, a obra integra elementos urbanos — como um poste de concreto — à composição, criando um diálogo sensível entre o patrimônio antigo e o espaço contemporâneo. Uma viagem visual que conecta mundos e convida à contemplação.

Paulo Roberto Amoroso

6/20/20252 min read

Petra no Embu Mirim: mural de Wladmir Amoroso transforma paisagem urbana em portal histórico

No coração do Beco do Embu Mirim, onde os muros contam histórias e a arte pulsa viva entre becos e vielas, o artista Wladmir Amoroso ergueu uma miragem: uma pintura mural que transporta o espectador diretamente às areias milenares da Jordânia, mais precisamente à mítica cidade de Petra.

Com seu estilo característico — ao mesmo tempo vigoroso e poético — Amoroso reinterpreta a fachada do célebre Al-Deir (O Mosteiro), um dos monumentos mais imponentes da antiga capital nabateia. Esculpida nas rochas avermelhadas da paisagem desértica, a arquitetura é traduzida aqui em tons terrosos e linhas firmes, que evocam o peso do tempo e a força da memória. A paleta de ocres e sienas dialoga com o céu de azul intenso, criando um contraste de grande impacto visual e simbólico: o eterno contra o efêmero, o estático contra o movimento da vida.

Mas há um detalhe que rompe a lógica tradicional da pintura mural e que merece destaque: o poste de concreto, inserido no meio da cena, foi inteiramente pintado como continuação do mural, camuflando-se com a textura da rocha. Em vez de ignorar o obstáculo urbano, Amoroso o incorpora com maestria à narrativa visual. O que seria uma interferência, torna-se parte da composição, num gesto que revela não apenas virtuosismo técnico, mas uma filosofia de integração — entre arte e espaço público, entre o construído e o natural, entre o passado e o presente.

A cena ganha ainda mais vida com pequenas figuras humanas e animais que circulam diante do templo. São presenças diminutas frente à grandeza da arquitetura, mas fundamentais para ativar o espaço como cenário vivido. É nesse contraste de escalas que a obra respira: na monumentalidade da pedra e na delicadeza do cotidiano, na vastidão do deserto e na intimidade do gesto pictórico.

Este mural de Wladmir Amoroso não é apenas uma homenagem a Petra — é uma ponte entre mundos. Ele reencanta o espaço urbano do Embu Mirim, trazendo consigo a potência da arte como janela para outras geografias, outras temporalidades e, sobretudo, outras formas de habitar poeticamente o mundo.