Do Deserto à Cúpula Dourada: A Jornada Histórica Pintada nos Muros de Itapecerica da Serra

No coração de Itapecerica da Serra, o Beco do Embu Mirim se transformou em um corredor cultural a céu aberto. Assinado pelo artista Wladmir Amoroso, o conjunto de murais retrata com riqueza visual e sensibilidade histórica as civilizações de Petra, Alexandria, Roma e Jerusalém. Uma iniciativa que ressignifica o espaço urbano e aproxima a comunidade da arte, da memória e do conhecimento.

Paulo Roberto Amoroso

7/6/20253 min read

Murais transformam o Beco do Embu Mirim em um corredor histórico e cultural em Itapecerica da Serra

Itapecerica da Serra, município da região metropolitana de São Paulo, guarda entre suas vielas um projeto artístico que surpreende pela grandiosidade, beleza e proposta educativa. No Beco do Embu Mirim, um antigo corredor de passagem cotidiana foi transformado em uma verdadeira galeria a céu aberto pelas mãos do artista visual Wladmir Amoroso.

Com traços firmes, domínio técnico e sensibilidade histórica, Amoroso criou um conjunto de murais que retratam quatro das civilizações mais emblemáticas da humanidade: Petra, Alexandria, Roma e Jerusalém. A obra se estende ao longo de muros urbanos, integrando arte, memória e espaço público de forma rara no cenário brasileiro contemporâneo.

Uma aula de história em escala monumental

A proposta do mural é ambiciosa: oferecer à comunidade local e aos visitantes uma experiência imersiva de contato com civilizações antigas que moldaram a história da humanidade. Mas o que poderia ser apenas uma representação didática se torna, pelas mãos do artista, uma interpretação sensível e envolvente de cada lugar e tempo retratado.

Petra – A cidade na pedra

O mural inicia com a representação de Petra, na Jordânia, conhecida mundialmente por suas construções talhadas diretamente nas montanhas avermelhadas do deserto. Amoroso capta com maestria o relevo e a textura das fachadas esculpidas, criando sombras e brilhos que conferem profundidade à cena. O visitante se depara com uma imagem que remete à resistência do tempo e à engenhosidade humana diante da natureza.

Alexandria – O farol do conhecimento

Logo em seguida, somos conduzidos à antiguidade egípcia, com a cena do lendário Farol de Alexandria, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. A paisagem marítima, com embarcações e céu em tons de ouro e azul, nos transporta para uma época em que a cidade era centro intelectual do mundo. A fumaça no alto do farol e a presença de construções portuárias ampliam o sentido de uma Alexandria viva e funcional, sugerindo a importância da navegação, do saber e do intercâmbio cultural.

Roma – O império da forma e do espírito

O centro do mural é dominado pela imponência de Roma, representada por templos de colunas monumentais, arcos triunfais e figuras humanas trajadas com vestes típicas da Antiguidade. A composição é grandiosa e rica em detalhes arquitetônicos: capitéis, relevos e esculturas em nichos, tudo pintado com fidelidade estética. Roma aqui não é apenas um lugar geográfico, mas um símbolo de poder, ordem e beleza clássica. A perspectiva utilizada na pintura oferece profundidade e convida o observador a entrar na cena, como um transeunte do passado.

Jerusalém – Cidade sagrada, cidade de encontros

Encerrando o mural, encontramos uma visão panorâmica de Jerusalém, com sua diversidade arquitetônica e seu caráter espiritual. A cúpula dourada, ponto focal da composição, brilha como um farol simbólico entre muralhas de pedra e construções que evocam séculos de fé e conflito. Wladmir Amoroso retrata Jerusalém como um lugar de convergência — geográfica, religiosa e afetiva —, cercada por uma natureza exuberante e edificações que respeitam a escala humana. A cidade emerge como metáfora da convivência possível entre diferentes culturas.

Arte pública como patrimônio vivo

A iniciativa de transformar o Beco do Embu Mirim em uma galeria histórica é, antes de tudo, uma ação de democratização da arte e valorização do espaço urbano. Ao inserir essas representações culturais no cotidiano da cidade, Wladmir Amoroso oferece não só beleza estética, mas também uma ferramenta educativa e transformadora.

Os murais dialogam com quem passa, despertando curiosidade, pertencimento e reflexão. Crianças, jovens e adultos têm ali acesso direto a imagens que, muitas vezes, só conheceriam por meio de livros escolares ou viagens distantes. É o passado se tornando presente, através da arte.

Wladmir Amoroso, com seu olhar humanista e técnico apurado, reafirma o papel da arte como agente de mudança, como ponte entre tempos e territórios, como expressão que enriquece e enobrece a vida cotidiana. O Beco do Embu Mirim, antes discreto, agora se impõe como um dos mais singulares pontos culturais de Itapecerica da Serra.